Foto retirada da Internet
(...)
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
Há cerca de nove anos atrás, antes de ter sido desafiado por um colega de trabalho, não sabia o que era isto da corrida. Nesse tempo, correr 10 kms, ou mesmo 5 kms, seria algo impossível para mim.
Quando nessa altura me desafiaram para ir correr, não aceitei de imediato, pois não conseguiria acompanhar um qualquer treino e apenas conseguiria estragá-lo a quem estivesse comigo, pois teria de estar constantemente a parar.
A pouco e pouco comecei a evoluir. Primeiro 5 minutos, depois 7 minutos, algum tempo depois 12 minutos. Pouco demorou para que eu, em vez de contar minutos, passasse a contar kms: 1 km, 2 Kms, 5 kms, até que em setembro de 2006 fia a minha primeira prova: A Mini-maratona (8 kms) da Ponte Vasco da Gama.
A pouco e pouco fui evoluindo e vieram as provas de 10 kms. Por esta altura, aquele colega de trabalho que me desafiou, já fazia Maratonas e lembro-me perfeitamente, aliás, nunca esquerecerei, que nessa altura tive o seguinte comentário: "Maratonas?? Isso +e para gajos malucos. Nunca será para mim. Nunca hei-de correr uma Maratona. Meias Maratonas, tá bem, mas Maratonas??? Não sou maluco!!!"
Depois dos 10 kms foram os 15 kms, depois as Meias Maratonas, primeiro tentando sem as conseguir fazer sempre a correr até que depois o consegui.
Por esta altura, já estava viciado na corrida, mas ainda não conhecia o mundo dos blogues.
Mas tarde, e apenas por um acaso descobri a blogosfera, ainda que num blog que nada tinha a ver com corridas. Foi criado apenas com o objectivo de descomprimir determinadas situações que de outra forma não o conseguia fazer.
Por esta altura, há cerca de 3 anos, e depois de já ter conseguido fazer algumas Meias Maratonas, tomei a decisão, a loucura (como eu pensava antigamente) de tentar a Maratona.
Mas infelicidade das infelicidades, pouco tempo depois sou confrontado com um problema de costas (hérnia discal) que me manda para o estaleiro vários meses: foi fisioterapia, foi ginásio, foi pilates. Foram meses stressantes, onde apesar de estar a recuperar e a fortalecer o corpo, foram meses de raiva. Raiva sempre que passava por alguém a correr e só me dava vontade de calçar umas sapatilhas e sair a correr (sentimento semelhante, ainda que por razões bem diferentes, só me lembro de ter por alturas do meu 10º ano).
Em abril de 2013, já recuperado da lesão nas costas, começo gradualmente a correr. A Maratona estava ainda muito longe, mas tudo iria depender da evolução. O tempo foi passando e a evolução foi surgindo e já fazia 14 kms. Em maio troco de sapatilhas e uma tendinite obriga-me a parar mês e meio.
Mas a pouco e pouco a recuperação surge e em agosto de 2013 surge o Corro, Logo Existo.
O Corro, Logo Existo surgiu como um compromisso público de que iria correr a Maratona, e serviria para registar os meus treinos, provas (qual diário), trocar experiências com outros atletas. Mas pouco durou para que o blog viesse a ser fundamental na minha vida, e através dele viesse a conhecer vários outros atletas que depois encontraria em provas, e se tornassem em verdadeiras inspirações para mim.
No ano passado, e depois de decidir que não iria fazer a minha primeira Maratona no estrangeiro, sem ninguém conhecido, tinha então definido como objetivo fazer a Maratona do Porto. Efetuado o plano de treino, havia pois que começar a cumpri-lo.
Uma consulta de rotina levou-me por essa altura ao Otorrino e depois de uma batelada de exames algo surgiu, não relacionado com otorrinolaringologia, que me levou a uma verdadeira Maratona médica, e que não só me obrigou a parar os treinos pondo em causa a Maratona do Porto (que tive que abdicar) como me levou a pensar que tal poderia não vie a ser possível.
Foram meses da mais pura angústia, pois por essa altura já a Maratona não me saía da cabeça.
Em fevereiro deste ano, e na continuação dessa mesma avaliação, tudo apontava para correr a Maratona, pelo que toca a fazer novo plano de treinos, e nada mais havia do que recomeçar a treinar de forma mais regular e intensa, aumentando a carga gradualmente.
Eis-nos chegados a maio de 2015, altura de inscrever para a Maratona, desta vez a de Lisboa, a realizar a 18 de outubro. Inscrição preenchida e agora era trabalhar para perder peso e recuperar gradual e consistentemente a forma física.
6ª feira - 22.05.2015 - Eis que recebo um SMS do cardiologista e com ele chega uma sensação de dejá vu.
Pelo sim, pelo não, e como ainda ia a tempo, decidi suspender a minha inscrição na Maratona, e ouvir uma segunda opinião, tal como o médico mo pedia.
Na passada 3ª feira foi assim o dia de ouvir uma nova opinião de outro médico. Foi uma conversa muito franca, interessante, importante e esclarecedora. Tudo começou com um resumo do historial clínico, mostrando todos os exames e relatando tudo o que aconteceu e como aconteceu. Depois altura de ouvir as conclusões do médico sobre toda esta situação e as consequências que dela podem advir, ou não, bem como as diversas alternativas existentes, riscos associados, e indicações para que sejam seguidas ou não.
No final, e tudo ponderado, não que a situação em si, que motivou toda aquela maratona médica o justificasse, mas sim todas as condicionantes que existem e que aliadas a esta, bem como juntar a tudo isto o que uma Maratona poderia significar o prognóstico é que insistir na Maratona poderia significar ir à procura de problemas, não querendo com isso dizer que os pudesse vir a encontrar.
Não estamos a falar de algo que fosse de um risco elevado, um de uma única situação que pudesse originar algo, mas sim de um conjunto de situações, que associadas aos efeitos que têm uma Maratona e o treino a esta associada, poderia vir a implicar na possibilidade de ocorrer algum problema.
A probabilidade de algo ocorrer não seria elevada, mas ainda que reduzida, não seria ainda assim desprezível. Mas mais importante do que a probabilidade de ocorrer, era as consequências que daí poderiam advir para o futuro, pois não estamos a falar de uma lesão muscular, do joelho, do pé, ou outra assim parecida que ainda que possam ter impacto, este será sempre menor.
Se a tudo isto juntarmos que as consequências de algo que pudesse ocorrer teria não só impacto quer na minha vida em termos desportivos, ou até mesmo físicos, mas poderia também ter um impacto significativo em todos aqueles que me rodeiam, impunha-se pensar seriamente se a Maratona era algo imprescindível e que eu não abdicaria, implicando assim numa alteração de estratégia, ou se por outro lado, faria mais sentido adaptar-me e fazer aquilo de que tanto gosto ainda que de maneira diferente.
A decisão acabou assim por ser adbicar da Maratona e continuar a correr, no sentido de manter a forma, e fazer corridas, ainda que sendo de resistência (10 kms, 15 kms, ou mesmo a Meia Maratona), sem o impacto que a Maratona em si poderia acarretar.
Assim, a Maratona deixará assim de ser um objetivo para mim, ainda que me continue a sentir extremamente feliz por todas as maratonas que sejam conseguidas por aqueles que conheço e que admiro, ou outros objetivos que venham a alcançar.
A corrida continuará no entanto a ser uma paixão para mim e iremos continuar a encontrar-nos por aí em provas mais pequenas.
Para já, a Maratona de Lisboa foi substituída pela Meia Maratona de Lisboa.
P.S. - Não está a ser fácil mentalizar-me que nem todos nasceram para ser maratonistas, ou para correr 100 mts (palavras do médico) mas há prioridades que não se podem ignorar, e com as quais temos que nortear a nossa vida.
Abreijos e até qualquer dia, numa prova por aí (que não a Maratona, é claro).