sábado, 31 de maio de 2014

Corrida Espírito de Aliança - A minha pequena loucura


Sábado - 17 de Maio foi o dia onde fiz a minha mais recente "pequena loucura". Pequena porque muitos de vós acharão que não é nada por aí além, e "loucura" porque nunca tinha corrido tanto num só dia, ainda que em dois momentos distintos.

Mas começemos pelo início.

PRÓLOGO:

Sexta feira à noite: É hora de preparar todo o equipamento para o dia seguinte e dormir um pouco antes do grande dia. Uma vez que ia ter que me levantar muito cedo optei por dormir no sofá, para não cordar ninguém. O problema é que antes de adormecer não tinha ligado o alarme do telemóvel.

ETAPA DA MANHÃ:

4h 15m: Acordei sem saber muito bem como, mas também não havia muito tempo para pensar nisso, pois às 4h45m tinha que estar no IST para a primeira etapa. Para ser sincero nem sei muito bem como consegui lá chegar a tempo. Ao chegar à Praça de Londres vi alguém com a camisola do Stress a correr para o local da partida. Alguém que como eu também estava atrasado. Como se impunha dei-lhe boleia poupando-lhe assim alguns metros e alguns minutos.

5h 00m: Foi dado o tiro de partida para esta prova de 100 kms, distância esta que iria ser percorria por alguns bravos, onde eu não me incluia. Eu iria fazer apenas a primeira etapa, tal como fizera no ano passado, mas desta vez iria regressar na parte final e fazer mais algumas etapas. A etapa inicial é feita dentro da cidade de Lisboa e não tem grande dificuldade, pois no percurso não existem grandes elevações e o facto de ser feita praticamente toda de noite, faz com que não esteja calor.

Tal como estava definido foi uma etapa feita em pelotão compacto, com um ritmo certo. Tive o prazer de fazer esta etapa na companhia da Ana, o que fez com que os 58 minutos da primeira etapa passassem "literalmente" a correr. Comparando com o ano passado, onde recomeçei a correr precisamente aqui, a diferença em termos de facilidade foi brutal.

Terminada a 1ª etapa era tempo de voltar para casa, deitar-me novamente no sofá e dormir um pouco.

ETAPAS DA TARDE:

À tarde era altura de fazer mais uns kms, cerca de 23 kms, que se viria a transformar em cerca de 25 kms, mas já lá vamos. 

Depois de almoçar, era altura de equipar e proteger com gaze a ferida que tinha no cotovelo (feita numa má aterragem a jogar à bola com o mais pequeno), e colocar protector solar pois adivinhavam-se mais de 3 horas debaixo de um sol quente. Parti então em direcção a Torres Vedras à procura de Castro Zambujal, que não fazia a mínima ideia de onde ficava. Chegado a Torres andei a percorrer a rota das rotundas pois perdi-me e não fazia a mínima ideia para onde ir. Não é que até não conheça Torres, mas não fazia a mínima onde ficaria Castro Zambujal.

Depois de pedir ajuda lá fui eu em direcção a Castro Zambujal e dei por mim numa estrada no meio dos montes onde em certos sítios apenas passava um carro. Estacionei o carro numa aldeia perto, de seu nome Adega e lá fui em direcção a Castro Zambujal onde seria o início. Percorridos 500 mts fui obrigado a voltar para trás pois deparei-me com um ribeiro e não queria encharcar as sapatilhas antes de começar a correr.

Antes do início da prova

Tendo sido barrado (apenas desta vez) por um ribeiro dei uma volta de quase 2 kms para chegar a Castro Zambujal, daí que os 23 kms se tivessem transformado em 25 kms. Eis então que estava no cimo de um pequeno monte, a aguardar a chegada dos participantes para que se pudesse iniciar mais uma etapa, e que seria a minha primeira das 3 etapas da tarde.

Castro Zambujal

Pouco antes das 17h, e já com algum atraso, o que é natural devido à dureza da prova e à necessidade de agrupamento dos atletas, iniciei a minha participação da tarde. Pouco mais de 1 km depois aí estava o ribeiro para ser atravessado e desta vez foi à séria, pois não se podia voltar para trás. Assim a melhor forma foi entrar de vez, sem medos. À saída do ribeiro tive que andar a tirar limos das sapatilhas e os primeiros kms depois da travessia foram feitos com banda sonora: "chop-chop-chop".

Pouco depois tive que enfrentar a primeira subida, e deixe-me dizer que era uma subida à séria. Inicialmente comecei por fazê-la a correr mas rapidamente me apercebi que que estava ao pé de mim, com mais experiência e preparação física, optava por fazer as subidas mais ingremes a andar em vez de ser a correr. Como a distância era grande (23 kms) e de certeza que iria encontrar muitas subidas assim, ou mesmo piores, optei por ir com calma, o que se veio a revelar sensato, pois ao km 20 em plena subida na Tapada de Mafra, mesmo a andar fui forçado a parar 2 vezes com caimbras.

Ao km 6  da primeira etapa houve uma paragem para agrupamento na Adega Mãe, onde houve oportunidade para os atletas conviverem entre si e recuperarem forças, sobretudo os que vinham para os 100 kms.

A prova seguiu então rumo ao Turcifal e ao Livramento, tendo mesmo passado no interior do Livramento. 

Era subir e descer, depois subir e novamente descer, e ao longo do percurso fomos encontrando diversos tipos de piso: alcatrão, terra batida, trilhos, estradões, paralelipipedos, eu sei lá. Desculpem lá eu não ter muitas fotos mas quando estou concentrado a correr esqueço-me do resto. Ao passarmos no Livramento deparámos com uma mancha do Clube do Stress que estava ali para nos apoiar e para se juntar ao pelotão para completar os últimos kms.
 Eu a chegar ao Livramento

Saímos do Livramento e voltámos a enveredar pelos pelos trilhos. Ora subíamos, ora descíamos, e lá ia indo eu orgulhoso por esta a aguentar o ritmo de um outro atleta do Stress que normalmente corre a um ritmo bem mais rápido do que eu. Assumindo que ele estaria a fazer uma prova razoável, mais lenta que o normal dele devido ao desnível, isso só poderia querer dizer que eu estava bem. 

Alguns kms mais à frente era tempo de atacar o meu abastecimento: marmelada e gel. Nessa altura fui alcançado na subida por 2 outros atletas do Stress (um deles o Bruno que estava a fazer os 100 kms) e fomos os três juntos, a andar, pois a subida era bastante ingreme. Foi nessa subida que comecei a sentir pela primeira vez caimbras nas pernas.

Nota: Não sei como é com voçês, aqueles que têm mais experiência no trail, se também fazem as subidas mais complicadas a andar. Eu optei por assim o fazer e acho que foi uma escolha acertada pois foram 3 etapas bem duras.

Pouco depois tentei novamente voltar a correr, mas sem sucesso, pelo que optei continuar a correr até ao ponto de agrupamento, que ficava junto à tapada de Mafra. Foi tempo de beber 2 garrafas de água, atacar novamente a marmelada.

Era então altura de partir para os últimos 8,5 kms. Inicialmente tinha muitas dúvidas de que conseguiria voltar a correr, mas para grande surpresa minha, quando partimos todos em conjunto, as forças regressaram às pernas e comecei a correr com relativa facilidade. A vista era espetacular pois não é todos os dias que podemos dar connosco a correr, ao entardecer, dentro da Tapada de Mafra.


A tapada de Mafra

A Tapada de Mafra

Agora a subir na Tapada de Mafra .....

 ...... rumo ao pôr do sol !!!

Depois de começar a subida, foi sempre a subir até ao fim da Tapada de Mafra. Nesta altura o grupo estava novamente dividido e eu seguia com o Nuno Pais. Depois de ter que parar mais uma vez com caimbras, consegui voltar novamente a andar e pouco tempo depois, mesmo a andar conseuia impor um bom ritmo na subiba, tendo apenas que abrandar às vezes para esperar pelo Nuno, mas este já tinha mais 12 kms de sobe e desde do que eu, feito numa altura de bastante calor. 

Ao chegarmos ao portão da tapada de Mafra deparámo-nos com o portão fechado e tivémos que fazer um compasso de espera até os militares o virem abrir. Daqui para a frente faltavam apenas 2,5 kms que foram feitos inicialmente a andar (nas subida) mas depois a correr. 

Estava a escurecer rapidamente e apesar de ter um frontal no camel back não o tirei e corríamos com o dia já bastante escuro guiando-nos apenas pelo trajecto branco que era o estradão, e que era ponteados por uns pontos luminosos à nossa volta: Pirilampos!!!   

À chegada ao Convento de Mafra foi altura de fazer novo reagrupamento que seria liderado pelos bravos dos 100 kms, e iríamos contornar assim o convento rumo à meta final. 

Depois veio o jantar dentro do convento de Mafra e o regresso a casa satisfeito com a minha pequena loucura e com a certeza que no futuro conseguiria ir mais além.

Eu e o Nuno

E aqui fica um vídeo com um pequeno resumo da Prova !




Espero para o ano poder estar de volta a esta prova.

7 comentários:

  1. Muito bom relato! Pois a 1ª etapa não tem dificuldade, assim como a segunda. A partir da 3ª que ainda fiz é que as coisas começam a doer, mas por outro lado é onde começa a beleza do percurso. Adorei a minha participação. A 1ª é simbólica, quero lá estar de novo para o ano. Mas também quero fazer mais etapas, conhecê-las e corrê-las! Não sei quais, mas do que corri, vi e senti este ano, só te sei dizer: quero mais!!!

    E por certo lá nos encontraremos de novo, algures entre Lisboa e Mafra.

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    1. Saé de lá com essa certeza, e espero que assim aconteça.

      No entanto as próximas semanas ditarão o que irá acontecer no futuro.

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  2. Parabéns! Deve ter sido um grande desafio, e a Tapada de Mafra é lindíssima, belo local para terminares a aventura. :)
    Bjs, bons treinos!

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    1. Obrigado. Foi duro mas foi muito bom, quer em termos de companheirismo, quer no local onde a prova decorreu.

      Os treinos esses estão reduzidos a mínimos :-( .... mas espero que tudo mude.

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  3. Muitos parabéns Fernando. Olha que não é fácil correr por etapas....correr, parar umas horas e depois voltar a correr mais tarde. Isso de caminhar a subir é um clássico nas Ultra-Maratonas...é uma forma de poupar energia....e olha que nem é só nas muito inclinadas, muitas vezes é sempre que aparece uma inclinação positiva por mais pequena que seja, especialmente quando já se leva umas dezenas de km nas pernas.
    Abraço e força para ultrapassar esse problemas, sejam eles quais forem

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  4. Parabéns pelo desafio conquistado.
    Que bela aventura!

    Mas tu achas que a gente corre em subidas hiper mega inclinadas? É praticamente impossível! Para além disso por vezes consegue ir-se mais rápido a caminhar do que a correr ;)

    Estou a ver que andas a treinar bem para a maratona. Força!

    Beijinhos

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  5. Nunca tinha ouvido falar desta corrida! É um conceito engraçado. Foi um grande desafio que superaste, parabéns. Agora é começar a dar nos longos, Outubro está quase aí :) Ah, quanto às subidas, eu sou adepto da mesma táctica eheh

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